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Mostrando postagens de 2020

Crônica: É tão fácil seguir?

  É oficial. Este blog é escrito por um profissional formado. Os leitores mais antigos bem devem lembrar de como este lugar era tomado por pautas aleatórias, textos repletos de erros gramaticais e entusiasmo. Muito entusiamo. O escritor que vos fala sempre foi tomado por uma grande vontade de produzir, só não sabia como. Aprendeu na prática.  Não à toa, ilustro o presente texto com uma foto tirada nos primeiros meses de 2017, quando me reunia com os amigos da perifa pra comentar sobre como os outros alunos da faculdade privada que eu estava frequentando se comportavam engraçado. Como as diferenças me faziam sentir deslocado. Como me faziam questionar se era lá onde eu deveria estar. Ah, também uso essa imagem pelo trocadilho com a temática reflexiva de hoje. Perdoem. Sou um piadista incurável e de gosto duvidoso.  A questão é que os anos em que fiquei "parado", educacionalmente falando, me foram cobrados. Meu ensino médio com longos períodos sem aulas básicas na rede públ...

A construção da imagem de Carmen Miranda

A imagem diz tudo. Para se obter sucesso em determinada área, decidir qual imagem você pretende transmitir é crucial. É sobre um grande exemplo de planejamento de imagem que trataremos hoje, alguém que enxergou uma demanda do mercado e se adaptou para atendê-la. Falo de Carmen Miranda. Filha de portugueses e nascida no país europeu, Maria do Carmo Miranda da Cunha tem origem bem diferente das verdadeiras baianas nas quais se inspirou para construir sua imagem. Carmen — nome pelo qual a apelidaram — nunca vendeu quitutes em Salvador e nem descende de africanos. Sua trajetória na música começa quando conhece Josué de Barros, compositor baiano que a presenteia com a canção "Não vá simbora". E é como mais uma entre as cantoras do período que ela inicia, mas logo deixaria o visual comum mostrado na foto ao lado para se tornar sinônimo de brasilidade. À partir da gravação de "Taí", a cantora torna-se diretamente ligada ao carnaval, sendo figurinha carimbada nas ...

Julie e os Fantasmas: Analisando as diferenças entre a série da Netflix e a original brasileira

  A série gringa da Netflix inspirada na original brasileira "Julie e os Fantasmas" estreou no último dia nove e, como acompanhei a exibição da trama da Band, decidi dar uma conferida nos primeiros episódios da nova versão, a fim de ver se a obra tupiniquim estava sendo bem adaptada e analisar as diferenças. A criação de Fabio Danesi, Paula Knudsen e Tiago Mello narrava a história de Julie, uma adolescente apaixonada por música e que não tinha coragem de se apresentar em público. O chamado para a aventura vem quando ela, seu pai e irmão se mudam para uma casa velha, onde encontra um antigo estúdio e coloca um LP para tocar. Assim, libertando os músicos mortos: Daniel, Félix e Martin. Juntos, eles realizam seus sonhos musicais. Em "Julie and the Phantoms", da Netflix, a ausência da mãe da protagonista permanece, mas agora por motivo de falecimento e a menina não muda de casa, apenas passa a explorar mais o antigo estúdio da mãe e liberta os fantasmas tocando...

Bateu Nostalgia: Série Geral.com

Adolescentes reunidos no mesmo prédio, vivendo as crises e amores dignos desta fase da vida e fazendo vídeos para a internet nos momentos vagos. Parece que eu estou falando de ICarly, da Nickelodeon, mas a série que descrevo trata-se de Geral.com, trama brasileira surgida em 2009 (anos antes do programa gringo). Sim, o programa me marcou a infância e hoje venho dividir com vocês o sentimento de nostalgia, provando que não foi tudo uma alucinação minha. Três amigas criam a Liga Geral.com, uma comunidade online onde compartilham conteúdo e conhecem novas pessoas. A história da minissérie exibida pela Globo em 2009 se desenrola quando as meninas descobrem que tem uma banda no seu prédio, a WWW, formada por Xande, Luke, Mateus, Pedro e João Werneck, que tinham uma banda na vida real e eram da mesma família, assim como no programa. A partir daí, a produção se torna também um documentário sobre a história da WWW, com depoimentos de pessoas que convivem com os músicos na vida real...

Whitewashing: Personagens não brancos interpretados por atores brancos

Talvez sem pretensão, a atriz Danni Suzuki abriu uma discussão importante. Durante transmissão ao vivo, a atriz de descendência japonesa relatou sobre como perdeu o papel de protagonista da novela "Sol Nascente" para Giovanna Antonelli. A branquitude de Giovanna não a fez ser desconsiderada para o papel de Alice Tanaka, mas Danni foi descartada sob a desculpa de ser muito velha para a personagem...Antonelli, a eleita, é dois anos mais velha que a moça. Walther Negrão, autor da novela, confirmou que a escreveu para Danni, baseando-se na vida dela para fazê-lo, no entanto, a atriz primeiro foi rebaixada para um papel coadjuvante e depois excluída do projeto. "Sol Nascente" rendeu protestos por parte do público, já que (mesmo com a temática oriental) tinha atores brancos em sua grande maioria. Essa prática de embranquecimento, infelizmente, é bastante comum. Há um caso emblemático de yellowface na história do cinema. Em 1935, a gigante Metro-Goldwyn-Mayer in...

"Living Single", a versão original e negra de "Friends"

A sitcom "Living Single" fez história, com Queen Latifah, Kim Fields, Kim Coles, John Henton, Terrence C. Carson e Erika Alexander no seu elenco de protagonistas. A série era centrada em um grupo de amigos que vivia em dois apartamentos do mesmo prédio, dividindo suas experiências pessoais e profissionais em Nova York. Este viria a ser um dos seriados afro-americanos mais populares da época. O programa despertou a atenção de muitos, logo em seu primeiro ano de exibição no Warner Channel. Neste período, um executivo da NBC, o Warren Littlefield, revelou em entrevista que "Living Single" era uma produção que gostaria de ter em sua emissora. Pouco tempo depois, a NBC estreia "Friends", série com a mesma temática e até personagens com personalidades parecidas, mas todos interpretados por atores brancos. Enquanto o programa original da Warner era iconizado junto à população negra, retratando mulheres afro-americanas em cargos de poder (como dona de rev...

Quem tem medo do jornalismo?

A imprensa chegou ao Brasil de modo tardio, principalmente se comparado aos países vizinhos. Até mesmo a chegada da tipografia à colônia foi reprimida, em 1747, quando a oficina de impressão de Antônio Isidoro da Fonseca foi fechada por ordem real e todos os aparelhos confiscados. O nascimento oficial da imprensa viria apenas com a chegada da Família Real Portuguesa, que saiu em fuga de seu país de origem por conta de Napoleão Bonaparte. Assim nasce a Gazeta do Rio de Janeiro, criada pelos colonizadores como forma de propaganda do governo e manutenção do poder.  O acesso a qualquer publicação que não impressa pelo governo era terminantemente proibido. O Correio Braziliense, criado por Hipólito da Costa, jornalista exilado na Inglaterra, também foi confiscado ao chegar em solo brasileiro. O informe continha críticas ao governo português e, em 1812, a Coroa realizaria um acordo financeiro com Hipólito, a fim de amenizá-las, temendo que ideias revolucionários fossem dis...

Conheça a Pequena Lo, a melhor TikToker de todos os tempos

2020 trouxe poucas coisas boas, mas a ascensão da digital influencer Lorrane Silva é uma prova de que nem tudo está perdido. A moça conseguiu se destacar entre os "rois" e dancinhas do TikTok, tornando-se viral com diversos vídeos hilários, que fazem sucesso não só no aplicativo, mas também em plataformas como Instagram e Twitter. A @_PequenaLo é psicóloga e palestrante, tendo passado a produzir conteúdo para a internet ainda em 2015, aos 19 anos. Ela postava vídeos de dança, humor e também dividia suas vivências quanto pessoa com deficiência física com os seguidores no Youtube. THREAD; vídeos da @/pequenalo no tiktok pra melhorar seu dia pic.twitter.com/3LjwxIkpz9 — eli🔅 (@flatlinres) August 18, 2020 Seus vídeos são de fácil identificação e conquistam todo mundo. Afinal, quem não temia o programa "Linha Direta"? Quem nunca ficou preocupado com um amigo sumido em uma festa? Quem nunca se imaginou estudando no colégio de High School Musical? Estes são alg...

A cantora Tammi Terrell e seu sucesso interrompido

Tem uma canção que permeia meus karaokês no carro, ela se chama "Ain't  No Mountain High Enough" e fala sobre um amor que supera tudo. Nos vocais, estão o grande Marvin Gaye e a jovem Tammi Terrell. Logo que a canção foi lançada, em 1967, tornou-se um sucesso absoluto, a grande chance de Tammi, que já vinha lutando por isso fazia tempo. Mas complicações de saúde interromperiam sua trajetória promissora aos 24 anos de idade. Nascida na Filadélfia, descobriu-se cantora ainda na infância, no coral da igreja frequentada pela família. Aos 13, já tinha uma carreira profissional utilizando Tammy Montgomery como nome artístico, abrindo shows de grandes artistas da época e, posteriormente, lançando seus próprios singles, sem nunca entrar nas grandes paradas musicais. Os anos passaram e não alcançar o status que desejava a fez analisar outras possibilidades de carreira, inscrevendo-se no curso de medicina da Universidade de Pensilvânia. As coisas mudariam quando passou ...

Resenha: "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" e "Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 Pelo Rock"

Exato, você acabou de ler o maior título de postagem da blogosfera. Estava separando livros que tentarei trocar no sebo ao fim da pandemia e dei de cara com dois títulos sobre os quais nunca tratei aqui: "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil" e "Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 Pelo Rock". Então, decidi dividir com vocês minha experiência ao ler os volumes da coleção.  Em 2009, o jornalista Leandro Narloch (recentemente ressurgido na mídia por episódio desagradável na CNN) lançou o primeiro livro da série, justamente o "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil", que chegou prometendo ser " o resultado de pesquisas de historiadores que não se renderam à educação tradicional à qual todos somos passados a ferro na escola " e eu, como interessado por curiosidades históricas que sou, corri até a livraria mais próxima para adquirir.  Assim que o li, pensei que a minha vida tinha sido uma mentira, afinal, tudo ...

Nordestern: As histórias de faroeste ambientadas no sertão brasileiro

Os filmes de faroeste são verdadeiros clássicos, protagonizados por cowboys estadunidenses e permeando a cultura ocidental. O Brasil tem o seu equivalente às obras de western, são aventuras no maior estilo bang bang ambientadas na região nordeste do país, apelidadas de nordestern. O gênero surgiu em 1953, com o filme "O Cangaceiro", que se baseava na história de Lampião e seu bando. A película foi premiada em Cannes e levou o cinema brasileiro para todo o mundo. Se nos Estados Unidos era comum que protagonistas de filmes do velho oeste  –  como Tom Mix e John Wayne  –  ganhassem suas próprias revistas em quadrinhos, aqui também aconteceu. Milton Ribeiro, destaque do filme de Lima Barreto, estrelou uma série de HQs que levava seu nome. Neste filme maravilhoso (assistam com urgência), ainda vale destacar o desempenho de Vanja Orico, que não só atuou como cantou brilhantemente e saiu em turnê por todo o mundo, divulgando a música brasileira. Ela ainda atuaria...

O que a "Marina Silva" de Manaus tem a nos ensinar?

Em 2014, o Brasil perdia sua chance na Copa do Mundo, em derrota humilhante para a Alemanha. Toda a nação lamentou, mas uma patriota em especial chamou a atenção da internet, tratava-se da moradora de rua Maria Solange, protagonista da história que te conto hoje. Com atuação que lembrava personagens de novela mexicana popularizadas no Brasil pelo SBT, ela acusava nossa seleção de ter se vendido. Faminta, ao fim da performance quase teatral, Maria pedia ajuda para comprar um churrasco. A mulher voltaria aos holofotes em 2020, rendendo risos em tempos sombrios e tendo seu conteúdo compartilhado até mesmo por Madonna. Hoje conhecida como "Marina Silva de Manaus", por sua suposta semelhança física com a política do  partido REDE, ela nasceu no Ceará e foi dependente química por mais de três décadas. Aos 17 anos, sem contar com o apoio de sua família, abandonou a filha aos cuidados de uma creche. Marina Silva partiu para o Amazonas como "mula" (transportadora d...

Três Espiãs Reais: Josephine Baker, Lise de Baissac e Mata Hari

Josephine Baker Amaryllis Fox, ex espiã da CIA, disse em entrevista recente que mulheres são as mais adequadas para o serviço secreto, por terem mais inteligência emocional, intuição e serem multitarefas. Me fez refletir sobre as mulheres que atuaram como agentes secretas em confrontos mundiais, marcando a história. Caricatura que insinuava seu envolvimento com o comunismo Josephine Baker foi uma grande vedete, tida como a primeira grande estrela negra das artes cênicas. Nascida em 1906, ela começou a cantar e dançar ainda na infância, profissionalizando-se. Como artista popular que era, Josephine transitava em importantes espaços sem levantar suspeita, atuando como espiã durante a Segunda Guerra Mundial. A vedete colaborou para a Resistência Francesa, movimento que não aceitava a submissão do país ao poder nazista. Depois do confronto mundial, ganhou medalhas e recebeu o título de Cavaleiro da Legião da Honra, pelas mãos do então presidente Charles de Gaulle.  Al...