
O nascimento oficial da imprensa viria apenas com a chegada da Família Real Portuguesa, que saiu em fuga de seu país de origem por conta de Napoleão Bonaparte. Assim nasce a Gazeta do Rio de Janeiro, criada pelos colonizadores como forma de propaganda do governo e manutenção do poder.
O acesso a qualquer publicação que não impressa pelo governo era terminantemente proibido. O Correio Braziliense, criado por Hipólito da Costa, jornalista exilado na Inglaterra, também foi confiscado ao chegar em solo brasileiro. O informe continha críticas ao governo português e, em 1812, a Coroa realizaria um acordo financeiro com Hipólito, a fim de amenizá-las, temendo que ideias revolucionários fossem disseminados e utilizando de vasta censura para que nada contra a "religião, governo e bons costumes" fosse divulgado no Brasil.

Vargas criou ainda o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), destinado à censura e à autopromoção, algumas das principais ferramentas de sustentação do seu governo totalitário. O órgão inclusive realizou uma intervenção no jornal Estado de São Paulo, passando a utilizá-lo para propagar seus ideais. O governo ainda tinha seu próprio programa de rádio, o Hora do Brasil, que continua sendo obrigatoriamente transmitido até hoje (com novo nome).

Um período marcado pela perseguição à classe jornalística viria durante outra ditadura, a Militar, instaurada em 1964. Neste momento, veículos de comunicação precisavam ter suas pautas previamente analisadas e aprovadas pelo governo. Entre os temas proibidos estavam a situação trágica da economia, o desaparecimento e tortura de pessoas pelo regime, além de qualquer outra abordagem desfavorável.

Vladimir Herzog foi um dos tantos mortos pelos militares neste momento histórico do qual se deve apenas sentir vergonha. A morte do jornalista, embora divulgada pelos seus algozes como um "suicídio", se trata de um assassinato, já que o homem se tornava uma ameaça ainda maior para o regime por ser militante do Partido Comunista.
Em 1983 a realização de eleições diretas foi negada pelo governo mais uma vez e General Newton Cruz convocou uma coletiva de imprensa. No evento onde deveria prestar contas ao povo brasileiro, já iniciou tentando desmoralizar o trabalho dos veículos de comunicação, acusando-os de publicar mentiras acerca do assunto tratado. O episódio resultou em uma cena icônica, quando o militar agride um repórter, ignorando as câmeras e microfones ao redor.
"Minha vontade é encher tua boca na porrada". Não, essa fala não foi do General e nem data de 1983. As palavras foram proferidas pelo atual Presidente do Brasil contra um jornalista do Globo, ao ser questionado sobre a quantia depositada por Fabrício Queiroz na conta da esposa do chefe de Estado. Foi ontem (23).

Não é a primeira vez que o Jair Bolsonaro ataca a classe. O simpatizante da ditadura militar tenta descredibilizar os veículos de comunicação a cada discurso. Deste modo, seus seguidores têm como única fonte "confiável" as redes sociais do Presidente, onde este profere fake news e pós-verdade, ou, como eu prefiro chamar: Mentiras.
Suas transmissões ao vivo são para nós algo semelhante ao que foi o programa Hora do Brasil, no governo de Vargas, ou a Gazeta do Rio, no reinado da Família Imperial. Mas sem originalidade alguma, contendo certa dose de vergonha alheia e comicidade.
Antes de encerrar, há um outro episódio que gostaria de comentar. Sim, ele antecede o desgoverno atual e ocorreu em 1932, ainda na República Velha. O jornalista Aparício Fernando foi espancado e sequestrado por policiais da Marinha. A ação se tratou de uma resposta a uma série de fascículos publicada por ele, contando a história do marinheiro João Cândido - líder da Revolta da Chibata - e os castigos físicos ainda empregados nas Forças Armadas.

As diversas tentativas de silenciamento do jornalismo ao longo da história do Brasil esclarecem que os acontecimentos recentes não são por acaso, mas sim a execução de uma tática antiga, promovida por governantes ardilosos que entendem o poder que a imprensa possui. Afinal, "jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique" e um povo bem informado é, de fato, motivo para temer.
sou fã demais desse menino kauan q raiva
ResponderExcluirEla veio ler :')
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