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Pura e verdadeira

Ontem em Ondina a Timbalada tocou aquela que eu te ouvia cantar sempre que fevereiro batia na porta.  Vi a folia virar desalento sabendo que a simplicidade daqueles fevereiros ficou mesmo no passado. Tudo se tornou tão mais complexo na última década que nem a sinfonia de timbales te traz de volta. Lembra de como você brincava e sorria, sem se deixar abalar por pouca coisa?  Eu lembro, pois sorria também e me alegrava de sua luz.  Na Avenida ou na sala de casa era mesma a celebração e não havia cordas capazes de delimitar seu espaço. Agora te encontro tão melancólica.  As armadilhas da mente te fizeram esquecer que fevereiro chegou trazendo de volta o carnaval.  Nossos monstros internos se parecem e se encontram eventualmente.  Dos meus ainda consigo fugir. Vejo-te perdida ao enfrentar os seus sem aceitar ajuda. E se eu aumentar o volume do rádio?  Será que vai se lembrar de Ondina, da amizade que fazia com os cordeiros  e das conversas com as Gordinhas?  Embora não respondessem,
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Com humor e horror, "Wandinha" brinca com os clichês adolescentes

Meu resguardo pós-cirurgia de extração dos sisos me obrigou a voltar pra Netflix e, felizmente, desta vez tinha o que assistir por lá. Maratonei em uma tarde a série "Wandinha". O impacto inicial veio ao constatar que, na versão original, a protagonista se chama Wednesday (Quarta-Feira). Ainda reflexivo sobre como o primeiro tradutor chegou até Wandinha como um nome equivalente, venho aqui dividir com vocês as minhas impressões sobre a produção. A trama é focada no amadurecimento da personagem título, que passa a estudar em Nunca Mais, internato no qual seus pais se conheceram. Enquanto desenvolve seus poderes psíquicos, a adolescente acaba no centro de um mistério envolvendo uma série de assassinatos. Os dramas próprios da idade também surgem na vida da moça, que continua tentando evitar esboçar emoções. A personalidade tóxica de Wandinha e seu sarcasmo são os pontos altos da série. Melhor ainda para o espectador são os raros momentos em que ela cede aos sentimentos humanos

Resenha: "Quarto de Despejo", de Carolina Maria de Jesus

Uma rotina atarefada é também paralisante. A grande lista de coisas a serem feitas acaba por me deixar sem saber por onde começo. Na dúvida sobre como usar o tempo, paro para ler. Recorri a um livro com o qual já tive contato anos atrás, mas pouco lembrava. Trata-se de "Quarto de despejo: Diário de uma favelada" , de Carolina Maria de Jesus, que se tornou uma das minhas obras favoritas, com seu texto sensível e direto.  O livro publicado em 1960 traz um pouco da rotina da autora na Favela do Canindé, em São Paulo. Carolina, uma mãe solo de três filhos que vivia de catar recicláveis, se revoltava diante das mazelas que enfrentava diretamente. Como ela própria dizia, era uma revolta justa.  Para seguir em frente mesmo diante da miséria e do descaso do poder público, ela escrevia. "Não tenho força física, mas minhas palavras ferem" , afirmava. Feriam mesmo. Sua escrita era uma espécie de vingança contra a fome, contra os políticos que só lembravam dos favelados em époc

A série "Veneno", da HBO Max, faz justiça a um ícone

Hoje venho falar sobre a série que mais me impactou nos últimos tempos: "Veneno", distribuída pela HBO Max. Ela conta a história de Cristina Ortiz, uma prostituta espanhola que se tornou uma grande personalidade da mídia nos anos 1990, trazendo para o jantar das famílias tradicionais a discussão da pauta transgênero.  Cristina ganhou espaço na televisão do único modo como este meio de comunicação permite a entrada de pessoas como ela: por acaso e com altas doses de sexualização. Ela estava se prostituindo no Parque del Oeste, em Madrid, quando chamou a atenção de uma repórter do programa "Esta Noche Cruzamos el Mississippi". O carisma e os comentários de duplo sentido da garota de programa, conhecida como La Veneno, chamaram a atenção de todo o público. Logo ela se tornou atração fixa do show.  A vida de Cristina virou uma verdadeira novela. Através do programa ela pôde reencontrar seus pais, precisando lidar com a desaprovação de sua mãe em relação à sua identidade

Séries pra maratonar: "The Bold Type", "Manhãs de Setembro" e "Invencível"

Quando a quarentena começou, pensei que esse tempo em casa seria ótimo pra colocar minhas séries em dia. Nesse período, terminei todas elas e descobri que o isolamento estava bem longe de qualquer adjetivo positivo. Depois de tantos meses, eu realmente precisava encontrar novas produções pra me alienar, foi quando me deparei com as séries que listo aqui hoje. A primeira é The Bold Type, que no Brasil ganha o título genérico de Poder Feminino. A série conta a história de Jane, Kat e Sutton, três grandes amigas que trabalham na revista feminina Scarlet e buscam ascensão profissional. Jane é repórter, Kat atua nas redes sociais da revista e Sutton é assistente na empresa. Todas as personagens são bastante interessantes, mas vale destacar esta última, com seu bom humor e comentários sarcásticos.  A série tem seus melhores momentos dramáticos em episódios como o décimo da terceira temporada, intitulado "Carregue o Peso", quando a chefe do trio protagonista começa a revelar algumas