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Crônica: É tão fácil seguir?

 


É oficial. Este blog é escrito por um profissional formado. Os leitores mais antigos bem devem lembrar de como este lugar era tomado por pautas aleatórias, textos repletos de erros gramaticais e entusiasmo. Muito entusiamo. O escritor que vos fala sempre foi tomado por uma grande vontade de produzir, só não sabia como. Aprendeu na prática. 

Não à toa, ilustro o presente texto com uma foto tirada nos primeiros meses de 2017, quando me reunia com os amigos da perifa pra comentar sobre como os outros alunos da faculdade privada que eu estava frequentando se comportavam engraçado. Como as diferenças me faziam sentir deslocado. Como me faziam questionar se era lá onde eu deveria estar. Ah, também uso essa imagem pelo trocadilho com a temática reflexiva de hoje. Perdoem. Sou um piadista incurável e de gosto duvidoso. 

A questão é que os anos em que fiquei "parado", educacionalmente falando, me foram cobrados. Meu ensino médio com longos períodos sem aulas básicas na rede pública estadual me deixou atrás do resto da turma. Claro, ele e as minhas dificuldades de aprendizado pessoais. Me vi perdido entre regras da língua portuguesa, entre filósofos e autores sobre os quais meus professores falavam com tanta naturalidade, presumindo que todos conhecêssemos. Busquei conhecê-los, mas definitivamente não entendia o que os professores esperavam de mim e as notas ao fim do semestre reafirmaram isso. 

Desanimado e temendo perder a bolsa de estudos por conta do baixo rendimento, recebi as primeiras avaliações da professora da matéria de Texto Jornalístico.

 Você não deveria estar aqui, não  ela disse, após ler minha primeira produção.
 Hm?
 Deveria estar numa redação de jornal. Seu texto está pronto. 

Naquele dia decidi que, não importava a qual custo, aprenderia as teorias complicadas para que eu pudesse exercer a prática com propriedade. Aprendi. 

No último dia 12, apresentei meu Trabalho de Conclusão de Curso. Escrevi um livro-reportagem em menos de três meses. No processo, percebi não saber nada sobre ABNT, mas a obra foi muito bem avaliada pela banca e me rendeu o título de Bacharel em Jornalismo. Por que estou contando isso tudo para você? Entenda. Rabisco por aqui desde a infância, sem compromisso, filtros, regras...Pouca coisa mudou. Claro, desenvolvi minha consciência social, deixei o cabelo crescer, entendi que a meritocracia é um mito, mas o principal é que, junto com a formação vem a responsabilidade e o compromisso com quem consome o que produzo. 

Ainda não pude comemorar a graduação com os amigos ou a família. A verdade é que tudo que eu mais queria agora era colar no buteco mais próximo, cercado dos mesmos que ouviam minhas inseguranças lá em 2017. Na falta deles e em tempos de pandemia, venho aqui dividir a notícia com vocês, afinal esta relação que temos vem desde 2011, não é? Quando little Kauan queria dividir seus interesses esquisitos com o mundo. 

Raul prometeu que era fácil seguir quando não havia para onde ir, mas a vida ainda está me devendo esta tranquilidade. O futuro incerto me desperta ansiedade e me faz reouvir as mesmas seis músicas da banda Scracho todos os dias, pela manhã. Talvez certo apenas seja que, de tempos em tempos, volto aqui e falo sobre o que vem me entretendo ou me inquietando. 

A gente se fala, vê se não some.

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