Pular para o conteúdo principal

Com humor e horror, "Wandinha" brinca com os clichês adolescentes


Meu resguardo pós-cirurgia de extração dos sisos me obrigou a voltar pra Netflix e, felizmente, desta vez tinha o que assistir por lá. Maratonei em uma tarde a série "Wandinha". O impacto inicial veio ao constatar que, na versão original, a protagonista se chama Wednesday (Quarta-Feira). Ainda reflexivo sobre como o primeiro tradutor chegou até Wandinha como um nome equivalente, venho aqui dividir com vocês as minhas impressões sobre a produção.

A trama é focada no amadurecimento da personagem título, que passa a estudar em Nunca Mais, internato no qual seus pais se conheceram. Enquanto desenvolve seus poderes psíquicos, a adolescente acaba no centro de um mistério envolvendo uma série de assassinatos. Os dramas próprios da idade também surgem na vida da moça, que continua tentando evitar esboçar emoções.

A personalidade tóxica de Wandinha e seu sarcasmo são os pontos altos da série. Melhor ainda para o espectador são os raros momentos em que ela cede aos sentimentos humanos e cria laços com outros personagens. Vale destacar em especial sua relação com a mão flutuante que a segue. Mãozinha e Enid Sinclair, colega de quarto de Wandinha, concorrem pelo posto de melhor coadjuvante. 

A adaptação encontra desafios parecidos com os de "O Mundo Sombrio de Sabrina", já que ambas as produções da Netflix buscam equilibrar tramas adolescentes com a temática do horror, trazendo personagens clássicos de volta à cena. Devo dizer que Wandinha se sai melhor. 

Jenna Ortega foi mesmo um acerto como Wandinha. A personagem raramente muda de expressão, mas não se torna cansativa. Também gosto da escalação de Luis Guzmán como Gomez Addams. Embora ele tenha causado estranheza em muitos dos espectadores, talvez seja o ator mais fiel à criação original do cartunista Charles Addams. 

Quanto à Mortícia de Catherine Zeta-Jones, esta realmente fica devendo e me passou a impressão de se tratar de alguém fazendo um cosplay da personagem. Não me pergunte o motivo, também não sei.

 Ainda no quesito elenco, gosto muito do fato de Christina Ricci estar no casting. Ela interpretou Wandinha ainda criança, nos filmes clássicos, e agora retorna ao universo Addams como professora Thornhill. Sua presença é nostálgica e soa como uma saudação ao passado da franquia. Por outro lado, a série peca pela pouca presença de atores negros tendo momentos de protagonismo. 

Aproveito a onda de críticas pra pontuar que, embora a série me ganhe com o humor mórbido, ela cria armadilhas pra si com o plote de investigação criminal. Convido o leitor a relembrar o grupo que melhor desvendou mistérios na ficção: a turma do Scooby-Doo. Todo episódio tem a cena fatídica em que eles desmascaram os responsáveis pelos crimes. Essa cena de confronto se repete por diversas vezes em "Wandinha", tornando-se enfadonha. 

A série também peca em não explicar melhor a relação ruim que a jovem tem com a família. Talvez a questão seja aprofundada numa próxima temporada. Ao menos espero que sim. Por fim, o saldo é bastante positivo. Aguardo saber a data de lançamento da segunda temporada para programar a extração dos dois sisos que sobraram. 



Comentários