Entrevista: “Ao sentir a dor do outro, não tem como continuar sendo indiferente”, diz Daniela Arbex sobre efeitos que sua obra causa no leitor

Como você vê o cenário atual do jornalismo literário no país?
Eu vejo sempre com otimismo, porque os meus livros
sempre foram muito bem recebidos pela critica e pelo público. Talvez eu seja
hoje uma das autoras de livros reportagem que mais vendem no país, e, se a
gente pensar que os temas que eu abordo são densos, difíceis de digerir, vemos
que o jornalismo de qualidade está cumprindo seu papel: Despertar o interesse
das pessoas sobre temas e questões invisíveis no Brasil. Na minha opinião, o
jornalismo de qualidade vai ter sempre espaço em qualquer plataforma.
Quais foram os desafios que você encontrou ao escolher seguir com o
jornalismo literário?
Na verdade, eu não encontrei grandes desafios, no
sentido literal. Porque, dentro da redação, eu já tinha uma narrativa muito
literária, mesmo escrevendo jornalismo diário. Eu já tinha essa pegada humana,
de contadora de histórias. Migrei naturalmente pra literatura, levando toda a qualidade
que o jornalismo diário me deu, em relação à apuração e checagem de dados.
Foram esses 23 anos de redação que me deram maturidade para me tornar uma
escritora.
Como é o seu processo de escrita?
É um processo longo, mas ele parte necessariamente
da qualidade da apuração, pois, sem a apuração devida, você não consegue
escrever, por melhor que seja o seu texto. Você precisa ter 100% de informação,
para usar 10% no seu texto, é necessário ter a compreensão do todo para escolher
os ângulos pelos quais a história será contada.

Qual foi seu principal objetivo ao
escrever "Holocausto Brasileiro"?
Meu objetivo ao escrever “Holocausto Brasileiro”
foi denunciar a forma como pessoas, supostamente com doenças mentais, eram e
são tratadas no Brasil. Meu objetivo era dar voz a quem não tem, dar visibilidade
a essa temática, colocando a luta antimanicomial na agenda pública novamente. Minha
intenção era contar essa história para o maior número de pessoas através da voz
dos sobreviventes.
Como você vê o impacto de “Holocausto Brasileiro” na mentalidade do
leitor?
Fico muito feliz quando percebo que Holocausto
Brasileiro é uma referência nacional, não só pra o jornalismo, como na área da
saúde, da filosofia, da sociologia... Porque o livro fala da complexidade
humana. Então, eu fico feliz que ele toque as pessoas, e é assim que tem que ser.
Porque, durante muito tempo, nós, numa sociedade higienista, nos acostumamos a
não enxergar a dor alheia. E “Holocausto Brasileiro” coloca a gente no lugar do
outro, por isso que ele provoca todas essas reações e transformações no olhar.
Ao sentir a dor do outro, não tem como a gente continuar indiferente.
Como foi adaptar “Holocausto Brasileiro” para a linguagem audiovisual no
documentário da HBO?
A adaptação do Holocausto pra TV foi um processo
bem natural, já que, quando você tem uma apuração de qualidade, você tem uma
história de qualidade que pode ser contada em qualquer plataforma. Então
Holocausto Brasileiro já foi uma série de reportagens ganhadora do Prêmio Esso,
depois se tornou um best seller da
literatura e, em seguida, um documentário que foi para mais de 40 países e
atingiu diversas pessoas ao redor do mundo. O documentário complementa o livro
e o livro complementa o documentário. O trabalho audiovisual é muito rico por
mostrar o tamanho da tragédia, o tamanho da indiferença. Esse documentário
também é muito importante por mostrar como muitas pessoas foram incapazes de
enxergar a gravidade da situação, deixando de denunciar e tornado-se parte
daquilo.
Como defensora dos direitos humanos, qual a sua visão sobre a atual
situação política do país e as ameaças de retorno dos manicômios?
Eu vejo com muita preocupação a atual situação
política do Brasil, porque a gente vem dando sinais claros de retrocesso. Na política
de saúde mental principalmente, porque o manicômio, que era um pagina virada,
voltou a ser considerado como forma de tratamento. Enquanto toda a luta da
saúde mental teve como objetivo fortalecer o cuidado em liberdade, esse atual
governo traz o manicômio como uma opção, sendo que o manicômio nunca foi e
nunca será local de moradia. Esses retrocessos terão conseqüências que ainda
nem podemos dimensionar.
“Cova 312” é de um impacto e
importância gigantescos. Como foi a construção do livro?

Olá.
ResponderExcluirA gente vê muito por aí entrevistas com autoras de ficção, mas acho que essa é a primeira com alguém que escreve não ficção que eu leio. Eu já tinha conhecimento sobre o caso da Cova 312 e também já tinha visto livro, então foi muito bom conhecer mais sobre a pessoa que o escreveu. Espero poder ler esse e os outros livros dela em breve.
Abraço.
Olá, tudo bem? Apesar de ela ter escrito o livro que retrata o ocorrido em minha cidade (o da boate Kiss), eu nunca li nada da autora; ainda não tive coragem para ler sobre esse acontecimento. Adorei a entrevista, os livros dela parecem ser muito bons!
ResponderExcluirBeijos,
Duas Livreiras
Eu li apenas um livro da autora, o Todo Dia é a Mesma Noite que conta a história da tragédia Kiss pela perspectiva dos sobreviventes e das famílias da vítimas e esse livro tem um lugar de honra no meu coração, ainda que tenha me feito sofrer muito. Adoro a escrita dela!!!
ResponderExcluirQUERO MUITO ler esse
ExcluirOlá, tudo bem? Que interessante a entrevista. Conhecermos um pouco mais do trabalho da autora por trás é sempre curioso. Admito que nunca li nada dela, mas seus títulos me são conhecidos, e quero um dia mudar o status de não lidos. Adorei!
ResponderExcluirBeijos
Olá! Tive a sorte de participar de uma mesa com a Daniela em uma cidade aqui do lado e que pessoa incrível! Fico feliz pelo sucesso dela porque ela é uma dessas mulheres que escrevem obras absurdamente necessárias.
ResponderExcluirEla é perfeita. Aff, amo essa mulher e tudo que ela faz <3
ExcluirOi, tudo bem? Que entrevista mais interessante. Acho incrível ter oportunidade de conhecer pessoas assim mais de perto. Acredito que foi por esse livro que soube do holocausto brasileiro, antes nunca tinha ouvido falar sobre o tema. Pra mim lugares assim existiam apenas em outros países. Obrigada por nos trazer mais detalhes. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirPois é. O Brasil é cheio de histórias de horror como esta, o que nos difere dos demais países é que ainda não entendemos que os erros do passado devem ser constantemente relembrados pra que não sejam repetidos.
ExcluirOlá, tudo bom?
ResponderExcluirTenho muita vontade de ler Holocausto Brasileiro, no entanto, ainda não tive coragem de iniciar. Por ser algo que aconteceu em minha cidade, por ouvir histórias de parentes que tiveram amigos mandados para esses manicômios, ainda é algo muito difícil de ler. Adorei conferir a entrevista com a autora e em breve espero ler o livro que conta a história da tragédia da Boate Kiss. Sua entrevista foi muito bacana para conhecermos mais da autora e de sua obra.
Beijos!
É como a Daniela disse, o livro te faz sentir um pouco do sofrimento que eles viveram, despertando empatia e etc. É bem duro pra qualquer pessoa ler, mas imagino que pra você, que está ainda mais próxima da narrativa, deve ser bem mais. As cenas descritas em "Holocausto Brasileiro" permeiam minha memória até hoje. Torço muito pra que esse passado triste fique no passado. Abraço!
ExcluirNunca li nada dessa autora. Mas gostei de conhecer um pouco de seu trabalho pelo seu próprio ângulo de vista. Não digo que irei conferir seus títulos porque esse é um gênero que pouco consumo, mas nada descarta de num futuro não muito distante eu ler algo dela e gostar.
ResponderExcluirOi, tudo bem?
ResponderExcluirAté ler seu post, eu ainda não tinha ouvido falar sobre a autora ou seus livros, mas ache muito interessante poder conhecer sobre o trabalho dela e seu processo de escrita. Os temas são realmente muito fortes e imagino o quanto ela deve ter feito um profundo trabalho de pesquisa.
Amei a entrevista e vou querer conferir o trabalho dela depois.
Beijos!
Gostei demais de conhecer essa escritora, seus livros me deixaram curioso para ler, pois parecem ser assuntos fortes, o que gosto de ler. Já anotei a dica, pois estou bem curioso para conferir essas histórias na íntegra.
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