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Embate entre estudos e senso comum chega ao estopim na CNN

Gabriela Prioli vira meme e bomba no twitter

A CNN chegou ao Brasil e devo admitir que, perante seu histórico internacional e contratações controversas (William Wack, recém demitido da Globo por tecer comentário racista ao vivo, foi um dos nomes anunciados), não esperava muito do canal. Minha surpresa positiva se deu no programa "O Grande Debate", onde a comentarista Gabriela Prioli traduzia o cenário político para os espectadores, mas não por muito tempo.

Gabriela, mestre em direito penal, professora de pós-graduação e especialista em política de drogas, debatia temas importantes com Caio Copolla...formado em direito. O distanciamento intelectual dos dois era notório, Caio conhecia alguns poucos termos técnicos, inseridos em discursos rasos de defesa ao atual governo. Três programas após a estréia, Copolla foi afastado por motivos de saúde, substituído por Tomé Abduch, que conseguiu tornar o programa ainda mais constrangedor.
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Tomé é engenheiro, empresário e completamente apaixonado por Jair Bolsonaro. Ele até mesmo se coloca no lugar de messias e voz do povo brasileiro, assim como seu representante no governo federal, defendendo-o cegamente. Uma ocasião interessante foi o debate sobre a Medida Provisória que previa a suspensão dos contratos de trabalho por quatro meses, comemorada por Tomé como um grande acerto do governo para equilibrar a economia. Quando o presidente revogou o trecho, no dia seguinte, Tomé parabenizou o chefe de Estado por reconhecer o erro e glorificou a atitude.

Enquanto Gabriela Prioli tentava manter o debate técnico, baseado em pesquisas, Tomé Abduch se comportava como se estivesse em um palanque, convidando o povo a acordar, extremamente comovido e abismado com "isso tudo que tá aí". Afinal, vale tudo para defender o "cidadão de bem", até mesmo interromper sua colega de debate diversas vezes, a fim de introduzir mais uma dose de senso comum e discurso genérico.

Tomé vinha fugindo dos temas propostos, com sua retórica populista e despreparada, passando por um grande vexame diário, que teve seu estopim na última sexta-feira (27), durante uma discussão sobre a prisão domiciliar de Eduardo Cunha, em virtude do Coronavírus. Lá estava Tomé Abduch, com seu discurso preconceituoso, elitista e dificuldade de conjugação verbal de sempre. O comentarista questionava a falta de rigidez da nossa constituição e criticava as leis com claro desconhecimento de causa ou o mínimo esforço para fazer parecer que o tinha, enquanto, do outro lado da bancada, Gabriela Prioli se mostrava frustrada por não conseguir, mais uma vez, aprofundar o debate, já que o colega insistia em fugir dele, com sua visão assumidamente leiga.

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É quando entra em cena Reinaldo Gottino, ex apresentador da Hora da Venenosa, quadro de fofocas que comandou ao lado da Fabíola Reipert e de uma cobra de pelúcia, na Record. O jornalista, que deveria mediar a discussão, tenta constranger a comentarista, convidando-a a deixar a visão técnica (munida de dados e vivência profissional), e adotar o olhar apaixonado, de torcedor de time, do colega Tomé.

No domingo (29), Gabriela Prioli anuncia sua saída do programa, por não conseguir exercer a sua função. O descaso do canal para com a intelectual destaca que sua intenção nunca foi criar um debate de ideias enriquecedor, mas sim digno do Programa do Ratinho, ou melhor, do Balanço Geral, apresentado por Gottino, anteriormente.

Sem ter tido a capacidade de encontrar um conservador de direita com uma retórica baseada em estudos reais e não em teorias da conspiração, a CNN já perde em qualidade após apenas duas semanas de estreia. 

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