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Suzy King, a primeira subcelebridade do Brasil

Dupla de escritores busca desvendar a vida transgressora da 'Deusa ...

 Que o nosso país é repleto de subcelebridades que querem aparecer à todo custo, todos sabemos. A maioria delas é ex de jogador de futebol, ex-reality ou simplesmente seres que aparecem por um escândalo qualquer e...BANG! Está em "A Fazenda". Mas muitos não sabem que esta classe já existia desde os tempos do Teatro de Revista e das vedetes. Na verdade, muitos nem reconhecem esses termos. Calma, que a gente explica.

Vedetes eram as beldades que dançavam, cantavam e atuavam nos teatros, Carmen Miranda é um bom exemplo, mas não é sobre ela que falaremos hoje, mas sim sobre Georgina Pires Sampaio. Esta iniciou a carreira no fim dos anos trinta, usando o nome de Diva Rios, mas se inspirou no sucesso de Luz Del Fuego (dançarina exótica e naturalista que se apresentava acompanhada de cobras) e foi ao Rio de Janeiro se apresentar num espetáculo que mesclava canto, dança e cobras. A esta altura ela já tinha se tornado Suzy King e sua história pôde ser acompanhada em diversas manchetes de jornais. 




Suzy já tinha sido expulsa duma pensão onde morava,por conta de fugas de suas cobras, mal chegara de viagem e uma delas fugiu pro apartamento ao lado (provável que a jiboia Catarina e a sucuri Cleópatra). O acontecido causou um pequeno escândalo por parte duma senhora italiana que ao avistar uma cobra em sua varanda...meio que pirou. Foi a primeira grande aparição de Suzy, que dizia aos jornais que o escândalo se deu por conta da nacionalidade da senhora, já que as cobras eram apenas "duas minhocas". Pior: Diziam as más línguas que foi tudo armação da parte de Suzy.


Suzy King – Marli Gonçalves
E lá vem o caso intitulado de "A Salsicha Envenenada". Suzy (Kin,King ou Kim...é...ela usou nome pá caraio) pediu que sua empregada comprasse uma salsicha na mercearia, segundo ela, a situação da salsicha era deplorável e o preço abusivo. Suzy partiu para a mercearia,onde o senhor,segundo ela, a recebeu com palavras de baixo calão e mandou-lhe dar parte na Delegacia de Economia Popular, onde tinha amigos que nada fariam contra ele...segundo ela. Lá, ela falou com um investigador que disse não poder fazer nada,Suzy se sentiu tão maltratada quanto na situação anterior e partiu para a mídia. O texto tinha este titulo "Além de Explorada, Maltratada" e começava dizendo que a mulher tinha aparecido na redação segurando uma salsicha de péssimo aspecto. Vários outros jornais replicaram a notícia, afinal um crime foi cometido e a policia estava consentindo com o drama das donas de casa.

O caso se complicou ainda mais quando, Suzy foi com um "Biquíni Sumaríssimo"(era como os jornais chamavam) e duas cobras à Praça Tiradentes, onde dançou até juntar uma multidão (alguns passavam rápido, achando que fosse uma louca). Agora sim, ela podia lançar pro público, tudo o que tinha dito aos jornais,só que com um novo fato: As salsichas mataram uma de suas cobras, ela queria dez mil cruzeiros de indenização. Um senhor achou aquilo tudo um absurdo e começou a bater boca com a vedete. Afim de acabar com a discussão, um guarda chegou, mas foi picado por uma cobra (ela se chamava Padilha), que logo viria a picar a dona. Foram pro pronto socorro, depois a delegacia. 


Suzy voltou aos jornais dizendo que o dono da fabrica de salsichas tinha "peitado" alguém para matá-la e que já esperava a morte, só restava saber como aconteceria, já que já havia um homem seguindo-a. 

Minha passagem preferida vem agora. Suzy decidiu bater o recorde feminino de faquirismo. Seu jejum duraria 110 dias...presa numa urna, mas antes disso ela decidiu cavalgar pela cidade (uma alusão á Lady Godiva) acompanhada dum falso índio, este ajudaria no caso de que algo desse errado...e deu. De repente, a população se aproximava e o "índio" simplesmente foge. Suzy acabou sendo derrubada e despida pela população, mas foi auxiliada, pegou uma roupa emprestado e partiu para a delegacia (de novo). Ainda houveram manchetes dela, contando sobre os assédios sofridos.

 O Jejum não durou, lógico. A faquiresa pediu para que sua empregada pusesse fogo nas cortinas onde estava a urna (que estava exposta numa loja). Não deu certo, por conta da grande vigilância, que visava impedir que ela quebrasse o contrato de faquirismo, mas outra coisa foi quebrada. Havia cinquenta e quatro dias de jejum (mas tinham boatos de que lanchava diariamente), quando Suzy quebrou a vidraça a marteladas, e já ia pegar um táxi quando foi surpreendida por Nocaute Jack, que cuidava da segurança e viria a se tornar massagista da seleção brasileira. Teve um ataque de nervos, foi levada ao hospital, depois à delegacia. Chegou até a acusar o porteiro de maus tratos.

A modernidade dos anos sessenta, que desmerecia os "artistas do povo" como ela, fez-lhe ir para os Estados Unidos, onde aderiu outra identidade: Yacui Yapura Sampaio Bailey. Que era 17 anos mais nova.

Durante o processo de pesquisa para o livro "Cravo na Carne - Fama e Fome", a dupla de escritores Os Albertos apurou e resgatou a história de vida de Suzy, que envolve outros casos polêmicos, como o desaparecimento de seu filho, a ocasião onde sofreu xenofobia nos Estados Unidos e até mesmo sua morte solitária. Conheça o trabalho deles acessando: http://suzyking.blogspot.com/



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